A aula de física a fazia viajar. No começo, até tentava prestar atenção.
Mas eram tantas forças, setas, regras, fórmulas que não lhe restava outra escolha: a menina delicadamente repousou sua cabeça sobre o caderno aberto, a página em branco.
Semicerrou os olhos e, com a caneta na mão, fazia rabiscos sem sentido em seu próprio punho.
Embalada pela voz distante do professor, se concentrou na mais repetida das palavras: gravidade.
Ah, isso ela sabia bem o que era.
Sempre fora suscetível a quedas, tombos, acidentes.
Nunca tinha dado a devida importância a isso, mas agora era notável.
Rebeca sentia como se estivesse em uma ladeira cujo destino inevitável era uma deserta rua sem saída.
E como se houvesse alguém puxando, e puxando, e puxando, cada vez mais perto de colidir com a parede.
Tão rápido, mas tão rápido - ela pensava no caminho - de forma que ela nem notou que antes da parede havia um buraco.
E continuavam a puxá-la, e puxá-la, e ela seguia caindo, caindo, com um medo tamanho do que se daria que nem lhe passou pela cabeça tentar voar, correr na direção contrária. De repente se lembrou do caderno e da caneta e começou a escrever um conto sem nexo.
"Quando chegamos ao fundo do poço", escrevia, sabendo que a conclusão de seu conto seria piegas, " só nos basta olhar para cima e buscar uma saída.
Abriu os olhos, desperta, então.
4 comentários:
Os primeiros parágrafos parecem uma descrição minha na aula de física!
Muito bom o texto, você escreve muitíssimo bem!
Beijos.
Juro que esse texto foi meu favorito
Nossa... eu também faço isso na aula de física (e de matemática tbm)... HAUSHUASHASH
Ficou muito legal o texto! ^^
A vida é cheia de pieguices, fato.
Mas fazer o que, né? Para sobreviver precisamos de alento mesmo que seja em palavras.
Ótimo texto!
Beijo
;*
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