terça-feira, 27 de outubro de 2009

As ladeiras de Rebeca

A aula de física a fazia viajar. No começo, até tentava prestar atenção.
Mas eram tantas forças, setas, regras, fórmulas que não lhe restava outra escolha: a menina delicadamente repousou sua cabeça sobre o caderno aberto, a página em branco.
Semicerrou os olhos e, com a caneta na mão, fazia rabiscos sem sentido em seu próprio punho.
Embalada pela voz distante do professor, se concentrou na mais repetida das palavras: gravidade.
Ah, isso ela sabia bem o que era.
Sempre fora suscetível a quedas, tombos, acidentes.
Nunca tinha dado a devida importância a isso, mas agora era notável.
Rebeca sentia como se estivesse em uma ladeira cujo destino inevitável era uma deserta rua sem saída.
E como se houvesse alguém puxando, e puxando, e puxando, cada vez mais perto de colidir com a parede.
Tão rápido, mas tão rápido - ela pensava no caminho - de forma que ela nem notou que antes da parede havia um buraco.
E continuavam a puxá-la, e puxá-la, e ela seguia caindo, caindo, com um medo tamanho do que se daria que nem lhe passou pela cabeça tentar voar, correr na direção contrária. De repente se lembrou do caderno e da caneta e começou a escrever um conto sem nexo.
"Quando chegamos ao fundo do poço", escrevia, sabendo que a conclusão de seu conto seria piegas, " só nos basta olhar para cima e buscar uma saída.
Abriu os olhos, desperta, então.

4 comentários:

Liv disse...

Os primeiros parágrafos parecem uma descrição minha na aula de física!
Muito bom o texto, você escreve muitíssimo bem!

Beijos.

Bárbara Széchy disse...

Juro que esse texto foi meu favorito

Anônimo disse...

Nossa... eu também faço isso na aula de física (e de matemática tbm)... HAUSHUASHASH
Ficou muito legal o texto! ^^

Babi Farias disse...

A vida é cheia de pieguices, fato.
Mas fazer o que, né? Para sobreviver precisamos de alento mesmo que seja em palavras.

Ótimo texto!
Beijo
;*