quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobre palcos metafóricos (e o medo que eles me provocam).

Algumas vezes na minha vida, pessoas se aproximaram de mim para falar sobre esse meu jeito exibido (ou desinibido, como parecem preferir dizer) com admiração e às vezes até com inveja, por mais estranho que isso me soe.
Ao que parece, nem todos gostam do "lado de cá" do palco. Tem gente que prefere ser plateia...
Eu não. Adoro me ver num palco e ter uma visão parcial das pessoas que me assistem, todas ofuscadas por tanta luz sobre mim e meus fiéis companheiros de cena.
Adoro o som dos aplausos ao final do espetáculo quando sei que mereci cada um, pois passei meses memorizando cada marcação e cada palavrinha.
Gosto de liberdade para me exibir quando sei o que estou fazendo.
Mas o fato é que, quando se fecham as cortinas e todo o elenco deixa o teatro, a vida continua lá fora. E, convenhamos, sem o mesmo encantamento que o teatro proporciona.
Sem textos decorados, sem marcações, sem a garantia de que um companheiro de cena vai dar um jeito de te dar a deixa certa. Sem a segurança dos aplausos ao final de cada espetáculo.
Uma vez fora de cena, estou perdida, e não tenho a menor ideia de como agir.
E tenho vergonha até de respirar. Tanta, mas tanta, que nem sequer transpareço.
Tenho vergonha de que descubram meu segredo.
A cada manhã, visto o personagem que criei e digo as falas que julgo serem as mais propícias a cada momento - e muitas vezes erro a fala. E erro feio. E magoo os outros sem querer.
E por vergonha dos meus erros, desenvolvo um medo de errar mais vezes e acabo me fechando cada vez no meu mundinho, por vergonha do que já errei antes e medo de errar de novo.
Vergonha de admitir que não sei, que desconheço, que não sou perfeita.
Quando me vejo num mundo do qual não faço parte, aonde não conheço cenário, figurino e personagens, costumo optar entre dois caminhos extremos: ou me jogo de cabeça e acabo sendo ridícula por me expor a tal num mundo desconhecido ou me recolho apenas àquilo que conheço por vergonha do meu ridículo assim, exposto em praça pública.
Por isso é que eu me escondo lá em cima do palco. Ou aqui, por trás das palavras. Me escondo ao me expor, na tentativa de que ninguém perceba como estou perdida nesse mundo, e como tento fingir da melhor forma possível que sei exatamente o que fazer.

6 comentários:

Desvarios de uma adolescente disse...

Ameei o texto como sempre achei interessante e como sempre me descreveu porém nem tenho um palco nem falas ensaiadas para me esconder enfim é isso ta lindo o texto até mas bjs.

Liv disse...

Eu sou uma criatura estranha, porque tenho medo tanto do palco como da vida real. É. ._.

:*

Anônimo disse...

Olá, conheça o projeto Entrelinhas e participe da nossa primeira edição (e das próximas também!).

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SZÉCHY disse...

Você sempre se diz perfeccionista, mas só agora eu percebi o quanto. Seu medo é natural, eu acho, se esse texto for mesmo autobiográfico. Mas natural não quer dizer bom, fácil ou sei lá. Me identifiquei muito com seu texto, luyu. Achei bonito e bem escrito (: E acho também que a beleza desses medos está no erro inocente de tentar se encontrar.

- disse...

O texto ficou legal,
muito interessante '-'

Desvarios de uma adolescente disse...

Ahh textos lindos como sempre.
O que quero perguntar mesmo é como faço pra entrar nestes negocios q vc disse do blorkutando e etc,quando puder me responda bjs (: