quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fantasia.

Eu estava sentada, quieta, muito entretida na minha árdua tarefa de picar guardanapos - trabalho destinado à mim, pobre pagã, entediada no meio daquele cenário: vários palhaços vestidos de seres humanos.
Fantasiados de juventude.
As cores eram vibrantes e tudo parecia um sonho.
Mas era real. A música ao fundo me fazia ter certeza de que era real.
Eis que se aproxima de mim um folião galanteador. Seu rosto provavelmente era escondido por uma máscara.
Não seria possível tamanha beleza dentro do mundo real.
Sentou-se ao meu lado, e entoando belas cantigas fez-me levantar a cabeça e mirar seus olhos.
Involuntariamente: com a força da vibração da sua voz, suave como um sussurro. Seu olhar me fez lembrar de coisas que eu nem sabia que havia esquecido.
Então com uma de suas mãos tocou-me o rosto, que rapidamente se enrubesceu, como acontece por qualquer coisa.
Fechei meus olhos, e ao abri-los novamente, já me havia desvencilhado de seu beijo.
Fitou-me o rosto por intermináveis segundos sem pronunciar palavra alguma.
Meu coração ainda não voltara ao pulso normal.
Mas eis que os intermináveis segundos terminaram, e ele levantou-se, como fosse tudo planejado desde sempre.
Como fosse tudo aquilo muito natural.
E não deixou espaço para fantasia alguma na minha mente.
Não havia imaginação mais abrangente que aqueles nítidos instantes.
Entendi ali, naquele olhar, que tudo o que vivi até aquele momento valera à pena.
Por ele. Ninguém mais.
Hoje as cinzas invadem minha quarta feira, e eu provavelmente não voltarei a vê-lo.

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