segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ana

Ela acorda apavorada, como de costume, e para um instante e pensa o que seria mais duro: o som árido do despertador que a fazia lembrar do dia maçante que vinha pela frente ou aqueles flashes obscuros que muitos por aí chamam de sonho. Então começavam os gritos.
O relógio gritava que o tempo passa, e que mais um esforço seria feito daqui a pouco.
Até o "sonho" gritava: insistia em piscar aqueles números grandes na balança.
Sua mãe grita por seu nome. Alguma coisa sobre café da manhã ser importante.
"Todos gritam", pensa a menina, atordoada, enquanto pega a mochila e vai para a escola como um robô programado para tal.
Nos corredores, olhares cruéis dos quais ela desviava. E no meio de um burburinho, no meio de superficialidade personificada estava o único olhar terno da escola. Ele era o segredo da menina, sua força para seguir.
As aulas ensinavam coisas inúteis e o recreio era uma tortura.
Do almoço ela escapara, mas fora forçada a jantar. "Covarde", dizia para si a cada mordida.
Se trancou no banheiro então. Por um bom tempo. Ninguém notara.
Música alta, sentia repulsa, culpa, raiva. Raiva de tudo, de nada, de si mesma e de todos. Exceto daquele olhar que a embevecia. Adormeceu pensando nele.
E de repente ela acorda, apavorada, como de costume.

Um comentário:

beatriz albarez disse...

que medo, mesmo, é triste pensar que tem pessoas que relamente passam por isso, se deixam enganar por uma reflexo no espelho que nem sempre é certo, e a hipnotizam até o ultimo momento. mas fico feliz em pensar que de repente, alguem estala os dedos, e o transe acaba, e por fim a garota acorda ejá nao se olha mais no espelho como antes. ela se aceita.