terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Emancipação Feminina

A mulher cumpria bem sua rotina, até bem demais.
Parecia que haviam apertado um botão e ela realizava mecanicamente suas funções de boa-esposa: cozinhava, arrumava a casa, dava banho na pequena.
Tinha medo por suas crianças que voltavam sozinhas do colégio sozinhas nas ruas perigosas de hoje.
Mas ela ainda tinha tanto a fazer!
Certo dia, o filho mais velho deixou um livro jogado no sofá.
A mulher trocou então a novela pelo livro. E ao acabar, pediu ao filho que pegasse outros, e outros, e outros livros na escola. E sua mente foi abrindo, expandindo, crescendo.
Algumas palavras eram difíceis de falar, sobretudo de entender.
Mas no geral ela entendia. Cada vez mais.
E ao final do sétimo livro começou a achar patética a cena do homem entrando em casa de um jeito bruto, se jogando no sofá sem nenhum zelo ou consideração.
O homem pôs os pés sujos por sobre a mesa e largou os sapatos enlameados no chão que ela passara a tarde esfregando. A coluna ainda doía.
- Largue essa bobeira de ter uma vida fora de casa, de conhecer gente - grunhia o homem - Vai conhecer gente coisíssima nenhuma. O seu mundo é esse aqui e tá muito bom.
Suas palavras eram impossíveis de ouvir, machucavam.
Mais que isso: eram desnecessárias.
Após por os filhos na cama a mulher pigarreou e foi para a cozinha. Então, ela pegou a faca.

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