Recostei minha cabeça involuntariamente - resolvi, enfim, ceder ao sono.
E embalada por uma música lenta, meus sonhos me levaram a um lugar bem mais agradável que o que eu estava.
Tive os velhos sonhos de sempre, com meu mundideal, viagens a Veneza, Paris e L.A.
Sonhei que toda a culpa em mim se esvaía, as pessoas que amo - todas elas - estavam em paz entre si.
Com palavras bem colocadas, tudo se havia resolvido - exatamente como eu sempre desejei que fosse.
E todos ficaram feliz demais por terem seus problemas sanados, de modo que foram se divertir no papel de protagonistas que lhes fora concedido - passando minha presença de coadjuvante para figurante.
E assim, minha presença já não era mais necessária.
Por começar a me sentir um impecilho, desejei sumir.
Mas ao invés de eu sumir, todos ao meu redor desapareceram.
Devem ter ido viver suas vidas, pensei. E até fiquei feliz por isso.
Mas sem eles por perto, tudo perdeu o gosto, tudo assumiu um triste cinza e tudo parou - tudo.
Todo o cinza só não me deixou triste porque eu já havia descoberto há tempos que sempre estive sozinha.
E porque guardava dentro de mim a esperança infantil de que, no lugar em que eles estivessem, sentiriam minha falta.
Guiada por essa esperança, deitei-me no meio daquele cinza, para esperar que me tirassem dali e me levassem com eles.
Desde sempre, no meu infinito paralelo, houveram cores.
Mas essa regra, pelo que constatei, só era válida caso eles estivessem do lado de lá, o lado com os olhos abertos.
Como disse, todo o cinza não me punha triste. Talvez um tanto nostálgica.
E quando estava a ponto de sufocar, ela surgiu.
Suas roupas não eram de nenhuma serventia.
Sua figura era um borrão preto - única cor cabível naquele lugar.
E como que por piedade, ela se aproximou de mim.
Não me senti mal por sua piedade. Não naquele instante.
E depois disso não senti mais nada. Nunca mais.
2 comentários:
Intenso teu texto. Nostálgica sensação me provocaste, ou talvez esteja assim nesses últimos dias.
Beijo
;*
Realmente, intenso o seu texto. Ficou ótimo! Você sabe tocar os leitores...
Beijo.
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